segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

É campeão! – O Dilúvio, Cerveja e o Sobrenatural de Almeida

Tarde nervosa para este que vos escreve. No bar, cada cerveja anunciava o andar do ponteiro do relógio. A hora passava. Vinte e seis anos depois da conqusita do Brasileiro, no Maracanã, sobre o Vasco, a última rodada do Brasileirão 2010 podia consagrar o time das Laranjeiras como o grande campeão, o dono do futebol brasileiro no ano do centenário corinthiano. Enquanto esperava o Rômulo (do saudoso e-zine RioHC), meu companheiro de sofrimento e tensão nesta tarde, lemrava de tudo que acontecera nos últimos anos ao meu querido Fluzão: Vice da Libertadores, vice da Sul-Americana, quase rebiaxado ano passado... Lembrava também do que foi o Brasileirão 2010. Todos os indícios de que o mal venceria o bem este ano: Centenário, Ronaldo, Roberto Carlos, estádio da Copa de 2014 e todos os holofotes da mídia nos cem anos do clube paulista.


O artigo que eu publicaria aqui após a última rodada do Brasileirão iria se chamar ‘Meus domingos com Roberto Carlos’. Longe de se tratar de uma matéria sobre o Rei (da música), o mesmo trataria de minha agonia tendo de suportar, rodada após rodada, independentemente do resultados dos jogos e das posições na tebela, o furor quase uterino da mídia com relação ao Corinthians e seu lateral esquerdo. Tudo era motivo para um “Vamos ao vivo ao vestiário do Corinthians...”! Coisas exdrúxulas como: “Roberto Carlos fala do que achou do juiz da partida!”, “Roberto Carlos dá coletiva neste momento!” ou “Roberto Carlos fala das chances do Timão” e até “Roberto Carlos fala ao vivo com o craque (...) Neto!”. Irrita qualquer ser humano.



Mais que irritar, faz pensar se não está tudo armado, comprado, pronto para a festa dos cem anos de uma das maiores torcidas (literalmente um ‘bando’, eles mesmos admitem) do país. Não é segredo pra ninguém que o Tricolor João Havelange, presidente de honra da FIFA vai indicar seu cunhado, o nesfasto Ricardo Teixeira, para a presidência da entidade máxima do futebol após a Copa de 2014. O problema é que o mesmo Ricardo Teixeira dá mostras de que indicará o presidente corinthiano para seu luagr na presidência da CBF. O fato de André Sanchez ter sido enviado à Copa deste ano como presidente da delegação brasileira é um indício. O atraso na definição de um estádio paulista para a abertura da Copa (sendo que o Corinthians corre pra viabilizar o seu estádio), outro. Ou seja, tudo levava a crer que ‘não iriam deixar’ o centenário corinthiano virar um ‘centenada’.


De volta pro bar e minha tremedeira e transpiração incontroláveis: Já com o Rômulo na mesa e a bola rolando, o clima era de tensão. Comentários comedidos, copos esvaziados rapidamente e unhas devidamente destroçadas. Minutos depois chegaria o Tácio (meu ex-colega de banda Choose a Life, vascaíno, torcendo pelo futebol carioca e de olho no seu Vasco que venceria o Ceará e se garantiria na Sul-Americana). Todos os olhares eram pro Engenhão. Como diria Nelson Rodrigues (ele também foi ao estádio, certeza, ficou ao lado do Telê Santana que comandou o Muricy nesta tarde): “todos os Tricolores do Céu e da Terra, vivos ou mortos”. E tome cerveja! E tome suor! E tome tremederia! Os minutos se arrastavam e nada de gol. Encerrando sua carreira, o árbitro Carlos Eugênio Simon distribuia cartões às pencas. E nada de gol. No bar e no estádio, o desfile de sempre da torcida femiina mais linda do universo! O time tentava controlar o evidente nervisoismo. O Guarani, por sua vez, é um time que não chega sequer no razoável, mas resistia, e até ameaçava vez ou outra (o que quatro milhões não fazem). A sensação era nítida, ao menos pra mim: tá faltando alguma coisa, ou alguém... mas quem, ou o quê? Definitivamente, faltava alguém, e esse alguém chegou.



O Sobrenatural de Almeida esteve entre nós! Chegou atrasado, mas chegou. O atraso do personagem mais emblemático da história do Tricolor Carioca tem um motivo: Antes de chegar ao estádio carioca, ele fez uma visita ao Estádio Serra Dourada minutos antes de tomar seu acento no Engenhão. Lá em Goias, o Sobrenatural de Almeida não precisou de muito esforço. Consciente de que um simples olhar seu é suficiente para mudar a história de uma partida, o ilustre Tricolor lançou seus poderes na direção de Julio César. O pobre goleiro corinthiano não resisitiu: um passe básico, infantil, ridículo, se tornaria a desgraça do centenário de seu clube. Já em terras Cariocas, o Sobrenatural de Almeida – devidamente instalado em sua cadeira no Engenhão com seu Jornal dos Sports debaixo do braço – agiu novamente: Olhar fixo em Carlinhos que cruzou, a bola passa por Washington (em má fase, melhor não arriscar) e cai no pé do Sheik... Fluminense Football Club: Campeão Brasileiro de 2010.


Não era só um título, era um título do Fluminense. E quando isso acontece, o mundo muda. O Universo respira aliviado e conspira a favor das coisas boas. A benção João de Desus, Nelson Rodrigues, Telê Santana e todos os nossos guias nessa conquista. E tome chuva e cerveja, até não poder mais, até esquecer de tudo, de todos. Até esquecer do mundo, da vida, do dinherio (falta de), dos nomes, das vozes, dos gritos, de tudo! A chuva veio pra abençoar, lavar a alma, corrigir a história, sintonizar, inundar, se misturar com lágrima e cerveja... E por fim: “Grandes são os outros. O Fluminense é enorme.” (Nelson Rodrigues)


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Um recadinho pro 'dublê de ex-craque' e pseudo-comentarista Neto e pro Dr.Osmar de Oliveira, ambos da Rede Bandeirantes: LAVEM ESSAS BOCAS IMUNDAS ANTES DE FALAR DO FUTEBOL CARIOCA!


Rafael A.


fotos: Portal Terra